Como melhorar as notas e não ficar de recuperação
Especialistas apontam o que interferem no desempenho escolar e dão dicas para recuperar as notas
O segundo semestre letivo se inicia nesta semana na maioria das escolas. Para estudantes com notas baixas, é tempo de traçar estratégias para melhorar o desempenho e evitar a temida recuperação no fim do ano. Falta de organização, indisciplina, método de estudo, problemas emocionais e cognitivos podem influenciar nas avaliações. Especialistas indicam caminhos para não repetir os erros do início do ano.
Organização foi a receita para que João Pedro, 10, que cursa o 5º ano, melhorasse as notas. Ele se mantém acima da média, mas a mãe, Dóris Benjamim, 45, percebeu mudança no rendimento e decidiu conversar para rever o método. “Estabelecemos um horário de estudos diário. A sistemática e o nosso acompanhamento ajudou bastante”, conta. Agora, João Pedro prioriza a matéria que tinha mais dificuldade e evita conversa na sala de aula. “Mas tem a hora de brincar, dormir, jogar no celular”, comemora.
Apoio dos pais
A cobrança deve vir junto do incentivo. “O diálogo e a amorosidade são essenciais. Ele precisa saber o quanto é amado. Sentar, conversar, escutar, dar presença”, pondera a especialista em Educação e professora de pedagogia da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Jeannette Ramos. Os pais devem estar atentos ainda para as mudanças nas metodologias de aprendizagem. “Os pais aprendem de um jeito e querem que os filhos aprendam do mesmo jeito, tantos anos depois”, compara a neuropsicóloga e psicopedagoga, Noélia Marques. Por isso, é fundamental observar como o estudante retém melhor os conteúdos e incentivar o método.
“A aprendizagem depende da memória, nós adquirimos e armazenamos informações pela memória visual e auditiva. Uma pessoa visual aprende mais com videoaulas e filmes que falam do assunto. Uma pessoa auditiva se dá bem com a sala de aula tradicional. O aluno vai precisar identificar como ele apreende a informação melhor. As estratégias vão desde um grifo simples até um resumo parafraseando o texto”, detalha.
ANA RUTE RAMIRES
Problemas emocionais também interferem na aprendizagem
Ela explica que há técnicas de estimulação que podem ajudar a criança ou adolescente a desenvolver foco e melhorar o tempo de atenção e a atenção seletiva. Identificar esses problemas cedo por meio de avaliação neuropsicológica pode evitar que as dificuldades continuem na adolescência.
“Algumas crianças têm um processamento mental mais lento e os pais dizem que são preguiçosas. Às vezes, a criança demora demais pra fazer uma tarefa ou fica dispersa e o pai perde a paciência. A criança também tem problemas. Se no desenvolvimento da personalidade ela tem pensamentos repetitivos, isso gera ansiedade e vai interferir na autoestima e na aprendizagem”, particulariza.
É importante ainda identificar problemas emocionais e o bullying para garantir acompanhamento médico e medidas na escola. “Separação dos pais e um familiar com transtorno de humor, por exemplo, resultam em um clima em casa que não vai deixá-la tranquila. E a criança não tem habilidade para perceber que o problema não é com ela”.
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Turbinando a máquina da aprendizagem
Juntos, tecnologia e professores podem renovar as escolas – mas ela precisa estar a serviço do ensino, e não o contrário
Desde então, a tecnologia educacional volta e meia percorre o mesmo ciclo de euforia e desânimo, a despeito de os computadores terem transformado quase todas as outras dimensões da vida. O conservadorismo dos professores e de seus sindicatos é um dos fatores. Mas o fato de a tecnologia educacional ainda não ter comprovado seu potencial supostamente maravilhoso é outro.
Agora, porém, os herdeiros de Skinner estão obrigando os céticos a reavaliar seus conceitos. Com o apoio de bilionários da tecnologia, como Mark Zuckerberg e Bill Gates, escolas do mundo inteiro usam softwares para “personalizar” a aprendizagem. Centenas de milhões de crianças que não conseguem avançar nos estudos podem ser beneficiadas por isso — mas só se os entusiastas da tecnologia educacional resistirem à tentação de resgatar teses equivocadas e perniciosas sobre a maneira como as crianças aprendem. Para ser bem-sucedida, a tecnologia educacional precisa estar a serviço do ensino, e não o contrário.
Lápis na carteira. O modelo convencional de educação surgiu no século 18, na Prússia. Até o momento, nenhuma alternativa a ele se mostrou capaz de ensinar tantas crianças com tanta eficiência. Salas de aula, classes agrupadas por idade, currículos padronizados e horários fixos ainda são a norma para o contingente de quase 1,5 bilhão de crianças matriculadas na educação básica em todo o mundo.
Muitas delas jamais chegam a desenvolver seu potencial. Em países pobres, apenas 25% dos alunos do ensino médio concluem os estudos com conhecimentos básicos em Matemática, Leitura e Ciência. Mesmo entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em sua maioria desenvolvidos, cerca de 30% dos jovens apresentam dificuldades em pelo menos uma dessas áreas.
Esse índice permaneceu praticamente inalterado nos últimos 15 anos — durante os quais as escolas receberam bilhões em investimento em tecnologia. Em 2012, já havia um computador para cada dois alunos em diversos países ricos. Na Austrália, seu número superava o de alunos. Utilizados de maneira incorreta, eles podem levar à distração. Estudo realizado em Portugal, em 2010, verificou que as escolas onde não havia acesso de banda larga à internet e onde sites como YouTube eram interditados apresentavam melhores resultados do que as que se encontravam na crista da onda da tecnologia.
O que realmente importa é a forma como a tecnologia é utilizada. Educação “sob medida” é uma das coisas em que ela pode auxiliar. Desde que o Rei Felipe II da Macedônia contratou Aristóteles para preparar seu filho Alexandre e ensiná-lo a ser Grande, pais ricos pagam professores particulares para seus filhos. De São Paulo a Estocolmo, os reformadores acreditam que a tecnologia educacional é capaz de pôr a atenção individual ao alcance de todos. Nos EUA, a adoção do modelo é acelerada. Um terço dos alunos do país estão em distritos escolares que assumiram o compromisso de implementar “uma aprendizagem personalizada e digital”.
De olho no pessoal do fundão. Esse tipo de inovação é bem-vindo. Mas o aproveitamento de todo o potencial da tecnologia da educação depende da compreensão de vários elementos. Em primeiro lugar, a “aprendizagem personalizada” precisa acompanhar as descobertas sobre o modo como as crianças aprendem. Não pode servir como desculpa para a recuperação de ideias pseudocientíficas, como a dos “estilos de aprendizagem”, isto é, a tese de que cada criança tem uma maneira particular de absorver informações.
Uma falácia de consequências menos graves é a de que, com a tecnologia, as crianças não precisam acumular conhecimentos nem assistir a aulas ministradas por um professor — afinal, o Google está aí para quê? Alguns entusiastas da tecnologia vão ainda mais longe, argumentando que os conhecimentos atrapalham o desenvolvimento de habilidades como criatividade e pensamento crítico. A verdade é o oposto disso. Uma memória abastecida de conhecimentos impulsiona essas habilidades. Na infância, William Shakespeare teve que decorar frases e regras gramaticais latinas, e mesmo assim conseguiu escreveu algumas peças de qualidade bastante razoável.
Em segundo lugar, é fundamental fazer com que a tecnologia educacional contribua para reduzir, e não aumentar, as desigualdades na educação. Nesse ponto, há razões para otimismo. Algumas das primeiras escolas a adotar a tecnologia são instituições particulares do Vale do Silício, mas há inúmeras escolas públicas seguindo o mesmo caminho.
Em terceiro lugar, a tecnologia da educação só realizará seu potencial se contar com a boa vontade dos professores. Eles têm razão em exigir provas de que a tecnologia funciona, mas o ceticismo não deve se tornar aversão despropositada. Nesse ponto, a rede pública do Estado de São Paulo é um exemplo a seguir: seus professores acolheram a contribuição da desenvolvedora de softwares adaptativos Geekie.
Em 1984, Skinner disse que a oposição à tecnologia era uma “vergonha” para a educação. Tendo em vista as promessas que a tecnologia educacional oferece hoje, não há lugar para cabeças tecnologicamente bitoladas em sala de aula. / TRADUÇÃO DE ALEXANDRE HUBNER
Fonte: OPOVO / ESTADÃO